segunda-feira, 10 de junho de 2013

A METÁFORA DO CORPO EM O CORTIÇO


A METÁFORA DO CORPO EM O CORTIÇO  
 
Suzane Reis Bonfim 

CONSIDERAÇÕES INICIAIS

Historicamente, a figura do corpo na literatura foi exposta de várias formas: idealizado, cheio de pudor, sempre muito coberto e representando a ética da época no séc. XVIII no Romantismo, e com mais participação e adquirindo linguagem própria para expressar desejos e sensações no Realismo e Naturalismo. Neste artigo, propomos um estudo sobre a representação do corpo na estética romântica analisando as características apresentadas tais como: roupas e gestos, e principalmente estudando a representação do corpo da época realista e naturalista, analisando os gestos corporais comparados principalmente a atos animalescos no romance O cortiço de Aluísio Azevedo.

Nossa leitura desta obra será feita observando os gestos dos corpos dos personagens na literatura Naturalista. Por meio da categoria narrativa, dito de maneira mais específica, personagens, na terminologia mais tradicional, ou atores, na terminologia mais recente, estruturalista. Identificando a presença de atitudes humanas comparadas aos dos animais e também seus desejos comparados a instintos animalescos e reconhecendo nelas a zoomorfia, característica do Naturalismo e Realismo e o porquê acontecem com tanta freqüência em toda a obra.

Para fazer essa análise recorremos aos seguintes suportes teóricos:" A visão romântica", de Jacó Guinsburg (in O romantismo, de Benedito Nunez.2ºed. São Paulo:Perspectiva, 1985, p ...) ; "O episódio naturalista", de Nelson Werneck Sodré (in História concisa da literatura brasileira. 6º ed. Rio de Janeiro: civilização brasileira, 1976, p. 425 447); "Aluísio Azevedo e os principais naturalistas", de Alfredo Bosi (in História concisa da literatura brasileira, 41º. Ed. São Paulo: cutrix, 2006, p. 187 194); e "Realismo. Naturalismo. Parnasianismo", de Afrânio Coutinho (in A literatura no Brasil. v 4.7º ed. São Paulo, 2004, p. 4 12);

Este artigo se dividirá em duas seções. Na primeira, intitulada "A metamorfose da metáfora do corpo", na qual daremos enfoque no corpo dos personagens naturalistas e realistas, demonstrando também a distinção das características corporais romântica para se fazer uma análise com a metáfora do corpo realista e naturalista; na segunda, A zoomorfia no cortiço, analisaremos como se compara os personagens aos animais comparando desejos a instintos atitudes humanas a dos animais não racionais no livro, O cortiço, de Aluísio Azevedo.

A edição de O cortiço que utilizamos para a elaboração deste artigo foi da Editora Ciranda Cultural, São Paulo, 2007.

I - A METAMORFOSE DA METÁFORA DO CORPO

Iremos analisar, a seguir, como era a descrição do corpo no Romantismo, com seu subjetivismo e pudor, para se comparar as mudanças acontecidas na evolução para metáfora do corpo dos personagens realistas e naturalistas, na literatura brasileira, destacando assim suas diferenças na forma de descrição, análise, seus enfoques e o que provoca nos homens românticos e nos realistas e naturalistas.

No Romantismo, no que toca à narrativa, era comum aos romancistas quase esconder o corpo dos seus personagens, o que tem tudo a ver com a ética e moral dos autores da época, ou seja, entre as duas últimas décadas do século XVIII e os fins da primeira metade do século XIX, se verificou a grande ruptura com os padrões do gosto clássico, estendidos por meio do Neoclassicismo iluminista.

Segundo Benedito Nunes, no capítulo intitulado " visão romântica", afirma que a concepção romântica está ligado a duas categorias: A psicológica que predomina o idealismo e metafísica com sua sensibilidade conflitiva que impulsionou os sentimentos extremos e as atitudes antagônicas;e a histórica que influenciava uma visão mediante de uma forma artística, de um estilo histórico por estar em um período de transição entre a Ancien Regime e oliberalismo.

Com isso podemos perceber que o idealismo romântico, a fuga da realidade e o pudor existentes nas obras estão intimamente ligados ao contexto histórico da época, pois insatisfeitos com o que acontecia a seu redor, os escritores começaram a idealizar em suas obras tais características, passando assim a destacar os pensamentos e sentimentos dos seus personagens.

As mulheres românticas apresentam-se sempre vestidas, e a mínima aparição de partes do seu corpo normalmente cobertas desperta delírios e interesses. Rostos são bem valorizados ressaltando normalmente olhos e cabelos:

Iracema, a virgem dos lábios de mel, que tinha os cabelos mais negros que a asa da graúna, e mais longos que seu talhe de palmeira.
O favo da Jati não era doce como seu sorriso; nem baunilha recendia no bosque como seu hálito perfumado.
(p.26, cap.2, José de Alencar).

Como que banhava-se essa estátua voluptuosa, em um gás de leite e fragrância.
Seus opulentos cabelos colhidos na nuca por um diadema de opalas, borbotavam em cascatas sobre as alvas espáduas bombeadas, com uma elegante simplicidade e garbo original que a arte não pode dar, ainda que o limite, e que só a própria natureza incute.
(José de Alencar, cap.IX, p.29 ).

Outras partes da anatomia feminina como braços e perna estão sempre cobertos, graças às roupas comuns ao estilo da época, que ocultavam até mesmo os tornozelos:

Não era, porém, a perfeição da obra, nem mesmo a excessiva delicadeza da forma, o que seduzia o nosso leão; eram sobretudo os debuxos suaves, as ondulações voluptuosas que tinham deixado na pelica os contornos do pezinho desconhecido.
(José de Alencar, Pág. 14, Cap. II) .

Mas esporadicamente, estas partes se evidenciavam, tornando-se o centro das atenções e comentários:

[...] Insensivelmente, seu olhar desceu a fímbria do roupão. Sobre a almofada de veludo e entre os folhos da cambraia, apareciam as unhas rosadas de dois pezinhos divinos.
Uma onda de rubor derramou-se pelo semblante da moça, cujos lábios balbuciaram uma palavra.
( José de Alencar pág.96, Cap.XIX).

Já o Naturalismo surgiu em meio à derrocada do feudalismo, quando a burguesia e o povo se juntaram para acabar com o sistema feudal. Esta fase se caracteriza pelo despojamento e pela violenta repressão dos movimentos populares que, segundo Nelson Werneck Sodré, vai de 1848 à comuna.

Por conta de tudo que estava acontecendo que os escritores procuravam criar obras em que são meros observadores, colocados à margem ou acima dos acontecimentos:

O abandono do exame dos mais profundos motivos, que revelam as conexões causais e humanas limitadas à visão ao superficial e cotidiano da existência, conduz inevitavelmente ao subjetivismo. Os naturalistas tentam enganar esse subjetivismo pela utilização de recursos científicos.
(Nelson Werneck Sodré Cap. 9, pág.427).
O Naturalismo trabalha com a análise do real, científico, aquilo que de mais relevante acontece, poderá ser retratado na obra. Sendo assim, uma escola que analisa e mostra a realidade sem máscaras e algumas vezes repletas de exageros:

Fugindo de figurar as suas exatas dimensões e a profundidade social de seus motivos, o naturalismo decaía inevitavelmente para o excepcional, para o isolado, para o arbitrário. É por isso que acaba por fixar-se no patológico nos tipos descomedidos, no ébrio, no criminoso, na histérica, no anormal, como se criaturas tais estivessem em condições de espelhar o conjunto.
(Nelson Werneck Sodré, p. 429, cap. 9).
Ao mostrar o corpo dos personagens realistas e naturalistas, os autores demonstram o lado antes impensável na literatura, que são: A sensualidade, os gestos, os desejos, ditos de forma escancarada assumindo assim linguagem própria. Esta performance corporal é expressa com tanta intensidade, que é atribuído ao homem características animalesca, querendo assim demonstrar o lado selvagem destes, no Realismo e Naturalismo como afirma Bosi:

A redução das criaturas ao nível animal cai dentro dos códigos anti românticos de despersonalização [...] como dá caráter absoluto ao que é efeito da iniqüidade social, o naturalista acaba fatalmente estendo a amargura da sua reflexão à própria fonte de todas as suas leis: A natureza humana a figurar-se-lhe uma selva selvaggia onde os fortes comem os fracos. Essa, a mola do cortiço. Essa, a explicação das vilanias e torpezas que "naturalmente" devem povoar a existência da gente pobre [...]
(pág.191, Alfredo Bosi, "Azevedo e os principais naturalistas").

II - A zoomorfia em cortiço
Azevedo na obra o cortiço, traz insistentemente um modo de ver seus personagens como animais irracionais, por meio de comparações das partes do corpo das pessoas ao dos animais e de atitudes animalescas:
E o mugido lúgubre daquela pobre criatura abandonada antepunha à rude agitação do cortiço uma nota lamentosa estristonha de uma vaca chamando longe, [...] assentada à soleira de sua porta, paciente e ululante como um cão que espera pelo o dono, maldizia a hora em que saíra da sua terra [...].
(P.115, Cap.XVI, O cortiço).
No escerto supracitado, há uma característica insistente em atribuir à personagem às particularidades de uma "vaca", comprovados nos seguintes termos: "Mugido lúgubre" e "vaca". Estes nos mostram que o personagem não estava apenas sofrendo por uma triste notícia, e sim sofria como uma "vaca", e que emitia sons como a mesma.

Da mesma forma, é dado as mesmas peculiaridades a outros personagens: Como a Marciana e o Jerônimo, a saber:

Marciana na frente do grande grupo e sem largar o braço da filha, que seguia como um animal puxado pela coleira, ao chegar à porta lateral da venda, berrou:
- O seu João Romão!
(P.64, cap.IX, O cortiço, grifo nosso)
Jerônimo soltou um mugido e caiu do barco, segurado os intestinos.
(P. 80, cap. X, O cortiço , grifo nosso)

Isso mostra que não é uma característica isolada de apenas um, mas sim de todos os personagens naturalistas que se mostram como verdadeiros animais selvagens e irracionais demonstrando assim suas origens animal, presente em algumas atitudes:

Também cantou. E cada verso que vinha da sua boca de mulata era um arrulhar choroso de pomba no cio.
E o Firmo bêbado de volúpia, enroscava-se todo ao violão; e o violão e ele gemiam com o mesmo gosto, grunhindo, ganindo, miando, com todas as vozes de bichos sensuais, num desespero de luxúria que penetra até o tutano com língua finíssima de cobra.
(P. 78, cap.X, O cortiço, grifo nosso)

Nesta citação estão explícitas as ações e instintos animalescos que segundo os realistas e naturalistas estão contidos em cada um dos seus personagens.

Suas personalidades são apresentadas com exagero, é o que acontece com Firmo e Rita Baiana; que são retratados num momento de excitação, destacam-se suas ações são ditas animalescas nos seguintes termos: Miar, granir, grunir e cio, como em vez de ser um homem e mulher, fossem dois bichos no cio.

Até o próprio cortiço é tratado como uma pessoa, ou melhor, como um ser vivo, que surgi sendo alimentado pelos personagens/ animais e as casas que aumentavam em quantidade, e assim o cortiço crescia:

E aquela terra encharcada e fumegante, naquela umidade quente e lodosa, começou a minhocar, a fervilhar, a crescer, um mundo, uma coisa viva, uma geração, que parecia brotar espontânea, ali mesmo, daquele lameiro, e multiplicar-se como larvas no esterco.
(p.15, cap.I, O cortiço).

Com isso, podemos perceber que a visão da vida naturalista está representada com veracidade, nos mostrando que a vida segundo esta escola literária é mais determinista, mais mecanicista: O homem é um animal, presa de forças fatais e superiores sem efeito ou maquiagem e impulsionado pela fisiologia em igualdade de proporções que pelo espírito ou pela razão. O naturalista observa o homem por meio do método científico, impessoal e objetivamente, como um "caso" a ser analisado.

Sendo assim, fica claro que os autores realistas e naturalistas procuram representar toda a natureza, a vida que está próxima da natureza, e o homem natural que é representado em suas visão como um outro bicho qualquer, que apesar de ser domesticado ainda guarda em suas raízes e em suas atitudes resquícios instintivos e animalescos que estão geralmente vinculados ao comportamento sexual. Mais que pode estar também ligado a tristeza, a procriação e ao trabalho como é o caso do trecho da página 115, capitulo XVI, "... que fazia ferver o sangue aos homens e metia-lhes no corpo luxúria de bode".

O exemplo supracitado retrata claramente um homem adquirindo o instinto animal de um bode em um momento que o homem está com desejos por outra personagem que por conseqüência nos causa repugnância e desprezo pelo personagem, sendo que a intenção do autor é realmente o contrário de nos mostrar o lado grotesco do ser humano de instintos animais e de atitudes exacerbada e impensadas, reduzindo-os a animais:

Da porta da taverna que dava para o cortiço iam e vinham como formigas; fazendo compras. [...] As corridas até a venda reproduziram-se, transformando-se num verminar constante de formigueiro assanhado.
(P.22, Cap. III, O cortiço)

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Por fim ao analisar os temas é quase impossível não perceber as diferenças marcantes entre o Romantismo e o Naturalismo, sendo que o primeiro é idealizado e o segundo é real. algo que acontece no cotidiano, com suas análises científicas, e que é mostrado de forma a defender uma tese, na qual surgiu por meio de várias observações do cotidiano que irá ser exposta na obra.

No cortiço, que é o nosso objeto de estudo, o ambiente retratado é o cortiço do Rio de Janeiro, e lá acontece de tudo como se fosse uma cidade. Um contexto propício para as análises naturalista com suas teses e exageros. Em nossa análise está explicito a redução do homem ao nível de animais irracionais, pois nossa tese está relacionada com os instintos humanos, o que pode ser comprovado por meio das citações supracitadas.

O autor enfoca com insistência a zoomorfia em sua obra com intuito de comprovar sua tese de que todo o homem tem seu lado selvagem. Comprovamos que a finalidade do autor é destacar que em cada ser humano há sempre seu lado animalesco, com instintos animais, mostrando assim que o homem apesar de toda tecnologia e evolução criada por ele ainda continua ligado aos seus ancestrais selvagens.


BIBLIOGRAFIA
ALENCAR, José de. A pata da gazela. São Paulo: Ática, Ed.: Fernando Paixão 1997.
ALENCAR, José de. Iracema. Rio de Janeiro. In Iracema e cinco Minutos. Rio de Janeiro: Viana & Filho, 1865. V 1.
ALENCAR, José de. Senhora. São Paulo: Ciranda cultural, V 1.
AZEVEDO, Aluísio. O cortiço. São Paulo: Ciranda cultural, 2007. V1.
BOSI, Alfredo. "Aluísio Azevedo e os principais naturalistas". In História Concisa da literatura brasileira. 41º ed. São Paulo: Cutrix, 2006, P.187 - 194.
COUTINHO, Afrânio. "Realismo. Naturalismo. Parnasianismo". In A literatura no Brasil. V4. 7º ed. São Paulo: 2004, P.4 12.
NUNEZ, Benedito. "A visão romântica", in GUINSBURG, Jacó (org). O romantismo. 4º ed. São Paulo: Perspectiva, 2005, P. 51 74.
SODRÉ, Nelson Werneck. "O episódio naturalista". In História da literatura brasileira. 6º ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1964, p. 425 447.

sábado, 8 de junho de 2013

Vamos mergulhar no Letramento!

Suzane Reis Bonfim
CONCEITO: É o resultado da ação de ensinar ou de aprender a ler e escrever: o estado ou a condição que adquire um grupo social ou um indivíduo como consequência de ter-se apropriado da escrita.

- Em Portugal se chama
literacia. Entendida como a ultilização social da competência alfabética.
- O utilizamos cotidianamente o substantivo que nega, ou seja,
analfabetismo ao contrário do alfabetismo que afirma.

ESTADO DE ANALFABETO: É aquele que não pode exercer em toda a sua plenitude os seus direitos de cidadão, é aquele que a sociedade marginaliza, é aquele que não tem acesso aos bens culturais de sociedades letradas e, mais que isso, grafocêntricas.

ESTADO DE LETRAMENTO: Estado ou condição de quem responde adequadamente às intensas demandas sociais pelo uso amplo e diferenciado da leitura e da escrita, esse fenômeno só recentemente se configurou como uma realidade em nosso contexto social.

- Porque se descobriu só agora o letramento?
Por que o analfabetismo era um problema mais a ser tratado, só recentimente esse oposto tornou-se necessário. Já que passamos a enfrentar uma nova realidade social em que não basta somente saber escrever e ler, é preciso saber responder as exigências.

- Um indivíduo pode ser analfabeto e ser de certa forma letrado.
Analfabeto por não saber ler nem escrever e ser marginalizado social e economicamente mas se se interessa em ouvir a leitura de jornais feitas por um alfabetizado, se recebe cartas e outras pessoas leem para ele, é de certa forma letrado, porque faz uso da escrita, envolve-se em práticas sociais de leitura e de escrita.
Por tudo já estudado podemos ver a diferença clara entre
alfabetização e letramento.

Referência

SOARES, Magda. Letramento em Verbete: O que é Letramento?
In Alfabetização e Letramento. 5 ed. São Paulo: Contexto, 2008. p. 15-25.

Análise da música Infinito Particular



ANÁLISE
Suzane Reis Bonfim



Infinito Particular
Eis o melhor e o pior de mim
O meu termômetro, o meu quilate
Vem, cara, me retrate
Não é impossível
Eu não sou difícil de ler
Faça sua parte
Eu sou daqui, eu não sou de Marte
Vem, cara, me repara
Não vê, tá na cara, sou porta bandeira de mim
Só não se perca ao entrar
No meu infinito particular
Em alguns instantes
Sou pequenina e também gigante
Vem, cara, se declara
O mundo é portátil
Pra quem não tem nada a esconder
Olha minha cara
É só mistério, não tem segredo
Vem cá, não tenha medo
A água é potável
Daqui você pode beber
Só não se perca ao entrar
No meu infinito particular
O nosso objetivo neste estudo é de mostrar como é feita a construção da música de Marisa Monte segundo aspectos de coesão e coerência textual, embasado no trabalho de Maria Lúcia Mexias Simon (s/d).
Primeiramente é necessário ressaltar conforme esclarece Simon que a coerência envolve “fatores lógico-semânticos e cognitivos”, dependendo assim do seu interlocutor para que a mensagem seja passada de forma satisfatória.
Segundo os aspectos de coerência é possível perceber na música “Infinito Particular”, contendo como características semânticas, ser uma música intimista trabalhando principalmente com o fluxo de consciência e uma linguagem subjetiva.
O corpus trabalhado expõe em forma de música a história de uma mulher que está sozinha e quer mostrar seus defeitos e suas qualidades, por meio de toda sua complexidade existencial. Com o objetivo de encontrar alguém que aceite como ela é realmente. Ao ver um homem ela começa a dar dicas e fazer ressalvas para que ele não se assuste ao ver seu infinito particular.
A coerência se da por meio da repetição dos termos (o meu/ Eu não sou/ Eu sou) com o objetivo de avivar a memória do leitor que a mulher da música está mostrando o que ela é e o que não é. A compositora também repete dois versos, duas vezes, são eles: No meu infinito particular/ Olha minha cara. Com o objetivo de convidar o seu amado a olha-la e adentrar no seu infinito particular, deixando assim o texto mais coerente e causando a progressão com novos elementos semânticos, já que a repetição foi feita somente para relembrar o leitor deixando espaço para a continuidade de informações.
Não existe contradição de sentido neste texto musical, somente antíteses que dão a ideia de contrários, sem se contradizer. A música é totalmente articulada de modo a demonstrar suas informações pessoais, defeitos e qualidades para que o convite de conhecê-la seja aceito.
Já a coesão é composta por elementos lexicais e gramaticais que proporcionam o fluxo de informação. É possível perceber principalmente o jogo de antíteses, tais como (pequenina/gigante; só mistério/não tem segredo; o melhor/ e o pior de mim) que demonstra a complexidade do ser humano e mais especificamente de ser mulher.
Outra figura de linguagem bastante utilizada no texto musical são as metáforas (termômetro, quilate, porta bandeira de mim). Esta ultima metáfora poderá ser considerada também uma intertextualidade no momento que a compositora faz sua comparação com uma porta bandeira, carregando o sentido de abrir passagem para a entrada do seu amor.
Outra intertextualidade presente é “Eu sou daqui, eu não sou de Marte” vem mostrar que ela não é uma extraterrestre, ou seja, de outro planeta, como por exemplo, de Marte, para que ele não fique preocupado, pois não iria acontecer nada sobrenatural.
A presença das formas imperativas reforçam esse convite ou praticamente esta ordem de amar, são eles: vem; faça; olha; não se perca. Sendo assim podemos perceber com este estudo de coesão e coerência textual, a complexidade e a necessidade de cada elemento textual para se transmitir a informação clara para o leitor, constituindo uma unidade semântica complexa.

REFERÊNCIAS

SIMON, Maria Lúcia Mexias. A construção do texto, coesão e coerência textuais conceito de tópico. Disponível em: HTTP:///www.filologia.org.br/revista/40suple/a_construção_de_texto.pdf. Acesso em 02 nov. 2011.

MONTE, Marisa. Infinito particular. Disponível em:  http://letras.terra.com.br/marisa-monte/515189/ Acesso em 27 jan. 2011.


sexta-feira, 7 de junho de 2013

Análise da música Fênix



Análise

Autora:Suzane Reis Bonfim
Fênix
Flávio Venturini e Jorge Vercilo

Eu, prisioneiro meu descobrir no breu uma constelação
Céus, conheci os céus pelos olhos seus
Véu de contemplação Deus, condenado
eu fui a forjar o amor no aço do rancor e a
transpor as leis mesquinhas dos mortais
Vou entre a redenção e o esplendor de
por você viver
Sim, quis sair de mim esquecer quem sou
e respirar por ti assim
transpor as leis mesquinhas dos mortais
Agoniza virgem Fênix (O amor)
entre cinzas, arco-íris e esplendor por
viver às juras de satisfazer o ego mortal.
Coisa pequenina, centelha divina,
renasceu das cinzas onde foi ruína pássaro
ferido hoje é paraíso
Luz da minha vida, pedra de alquimia tudo o que eu queria
Renascer das cinzas
Quando o frio vem nos aquecer o coração
Quando a noite faz nascer a luz da
escuridão e a dor revela a mais
esplêndida emoção ... O amor 


Rogel Samuel (2005) retrata a lírica como algo que conta uma história, recorda emoções do passado, a dificuldade solidária do vazio presente. Dizendo que o lírico é sempre solitário, individualista no clima de intimidade e confissão das frases solta das palavras e sugestões imprecisas, sendo elemento significativo em sua essência.
Ao fazer análise da música Fênix é possível constatar a aproximação do lirismo com a música devido à presença das características que são marcantes e relevantes nesse gênero literário.
Para o desenvolvimento da análise, fazem-se necessárias algumas definições, tais como a relação entre actante-sujeito e objeto-valor, e o seu estado passional, segundo a análise semiótica. Mas, abordaremos cada uma delas, nos níveis correspondentes do percurso gerativo do sentido.
Interpretação Musical, ou o estudo do Signo musical e sua relação com o Interpretante (em sentido peirceano), colocará em pauta a ação dos Signos musicais numa mente atual ou potencial. Será, de forma geral, coordenado pelo conceito e divisões do Interpretante e pela terceira tricotomia (Rema, Dicente e Argumento).
Começando pelo titulo da música Fênix, a primeira instância pensamos que irá se falar do pássaro, mas quando ouvimos a letra podemos verificar uma das maiores metáfora que circunda a música a comparação do pássaro com o amor. Na primeira palavra da música já podemos perceber uma característica forte do lirismo que é o uso do “Eu” que dá ideia de falar de si próprio sendo subjetivista, mas nunca deixa de falar do outro, sendo este, objeto de desejo.
Em seguida ele começa a fazer o uso novamente de metáforas ao dizer que através dos olhos seus conseguiu conhecer os Céus, deixando a entender que a mulher é algo muito lindo e sereno como o céu perfeito, porém dando prosseguimento a letra ele começa a relatar sobre o sofrimento desse amor que lhe foi condenado a esquecer levando esse amor para o plano dos mortais, outra marca importante do lirismo onde demonstra a tristeza o lamento da morte do amor.
No verso “vou entre a redenção e o esplendor de por você viver” podemos constatar nesse verso a presença do “e” coordenação aditiva que no lirismo tem a finalidade de expressar à emoção lírica, e também que esse amor antes estava condenado a não mais existir, porém ele conseguiu sobreviver e chegar ao esplendor.
Na linha “Sim, quis sair de mim e esquecer quem sou e respirar por ti assim transpor as linhas mesquinhas dos mortais” podemos perceber que o eu lírico tenta fugir, querendo transferir esse amor para outra dimensão, as leis insignificantes dos mortais ele queria ficar livre desse amor. Mas uma vez podemos perceber o uso do conectivo aditivo e para demonstrar toda uma emoção lírica.
Ao ouvir a música, foi possível preceder que no momento que ele diz mortais, ele segura o tom, o que da a ideia de sofrimento e logo após vem a parte instrumental o que faz confirmar um toque suave como se ele quisesse se libertar desse sofrimento e reviver esse amor sendo confirmado no verso  “Agoniza virgem Fênix (O amor)”. É o momento que o eu lírico começa a sentir a força desse amor que apesar de ter virado cinza, foi forte, sobreviveu e virou arco-íris, ganhou um novo sentido ganhou cores. Ele agora não fala mais de redenção no verso a seguir e sim “Esplendor por viver ás juras de satisfazer o ego (eu) mortal”. Novamente podemos constatar a subjetividade.
Ele começa a descrever o amor que imaginava ser tão pequeno, porém com apenas uma partícula é a faísca de luz que é a centelha divina do amor, ele renasce das cinzas. Faz a comparação novamente do pássaro com o amor que antes era sofrimento e com o surgimento do amor ele agora vai ser paraíso.
A música chega ao seu ápice. Ele altera a sua voz. Expõe toda sua emoção, a uma explosão de sentimentos com o reviver da Fênix. Declara o seu amor, o desejo de viver esse amor é realizado, quando o amor renasce das cinzas. Fazendo uso de mais uma metáfora as cinzas que na primeira parte música tem significado de todo o sofrimento de um amor retraído sem cor, sem perspectiva.
Na última parte da música o uso de paradoxo “quando o frio vem nos aquecer o coração” esse frio é representado pelo amor que começa a preencher o coração ele vai perder a noção do senso comum. Continua na última linha dizendo “Quando a noite faz nascer a luz da escuridão e a dor revela a mas esplêndida emoção... O Amor” ele finaliza fazendo o uso do conectivo aditivo e confirmando a presença do lirismo.
Então percebe-se que a música é constituída de dois momentos, o primeiro  vai está voltado para um homem que vive antes do eu lírico  na escuridão, tem um amor adormecido, ele é prisioneiro  desse amor que vivendo no breu o amor tinha virado cinzas. Já no segundo momento com chegada do eu lírico quando a Fênix (o amor) renasceu das cinzas podemos perceber que as cinzas vai ser substituída por um arco-íris que vem simbolizar a chegada desse amor, a constelação a presença de luz, o pássaro que era ferido virou paraíso com o renascer do amor.
 Conclui-se que a música Fênix é o próprio eu lírico a música ela tem essa característica de emocionar rapidamente falando de si mesmo, sendo subjetiva fazendo o uso de metáforas, mostrando os seus sentimentos. Angélica Soares (2005) nos diz que o lírico faz uso de recursos sonoros e de significação se aliam de tal forma, que criam uma unidade. Podemos perceber este fato na mudança do ritmo da voz do cantor, que transmite a dor e posteriormente a sua felicidade de ter conseguido o seu objeto de desejo.

Referências


PEIRCE, C.S. (1984) Semiótica e Filosofia, 3a ed., trad. Octanny Silveira da Mota e Leonidas Hesenberg, São Paulo, Cultrix.

TATIT, Luiz Augusto de Moraes, Semiótica da Canção – Melodia e Letra (São Paulo: Escuta, 1994).

BARROS, D. L. P. Teoria semiótica do texto. São Paulo: Ática, 2001.
 
SOARES, Angélica. Gêneros literários. 7. Ed. São Paulo: Princípios, 2005.